Quarta-feira, 12 de Abril de 2006

O que diz o Livro "Um Curso Em Milagres"

 
Nada real pode ser ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisso está a paz de Deus.

É assim que Um Curso em Milagres começa. Ele faz uma distinção fundamental entre o real e o irreal, entre conhecimento e percepção. Conhecimento é verdade, e está sob uma única lei, a lei do Amor de Deus. A verdade é inalterável, eterna e não é ambígua. É possível não reconhecê-la, mas não é possível mudá-la. Ela se aplica a tudo o que Deus criou e só o que Ele criou é real. Está além do aprendizado porque está além do tempo e do processo. Não tem opostos, não tem início e não tem fim. Simplesmente é.
O mundo da percepção, por outro lado, é o mundo do tempo, da mudança, dos inícios e dos fins. Ele se baseia em interpretação, não em fatos. É o mundo do nascimento e da morte, fundado sobre a crença na escassez, na perda, na separação e na morte. Ele é aprendido mais do que dado, seletivo nas ênfases que dá à percepção, instável em seu funcionamento e impreciso em suas interpretações.
Do conhecimento e da percepção surgem respectivamente dois sistemas de pensamento distintos que são opostos em todos os aspectos. No domínio do conhecimento, nenhum pensamento existe à parte de Deus, porque Deus e Sua Criação compartilham uma única Vontade. O mundo da percepção, no entanto, é feito pela crença em opostos e vontades separadas, em perpétuo conflito umas com as outras e com Deus. O que a percepção vê e ouve parece ser real porque ela só permite que entre na consciência o que está de acordo com os desejos de quem está percebendo. Isso leva a um mundo de ilusões, um mundo que precisa de defesa constante, exatamente porque ele não é real.
Quando foste aprisionado no mundo da percepção, foste aprisionado num sonho. Não podes escapar sem ajuda, porque tudo o que os teus sentidos te mostram apenas testemunha a realidade do sonho. Deus forneceu a Resposta, o único Caminho para a saída, o verdadeiro Ajudante. A função da Sua Voz, Seu Espírito Santo, é ser o mediador entre os dois mundos. Ele pode fazer isso porque, se de um lado conhece a verdade, de outro também reconhece as nossas ilusões, mas sem acreditar nelas. A meta do Espírito Santo é ajudar-nos a escapar do mundo de sonhos ensinando-nos a reverter nosso pensamento e a desaprender nossos erros. O perdão é o grande instrumento de aprendizado do Espírito Santo para realizar essa inversão do pensamento. No entanto, o curso tem a sua própria definição do que é realmente o perdão, assim como ele define o mundo à sua própria maneira.
O mundo que nós vemos apenas reflete o nosso próprio referencial interno - as idéias dominantes, desejos e emoções em nossas mentes. “A projeção faz a percepção” (Texto pág. 474). Nós olhamos antes para dentro, decidimos o tipo de mundo que queremos ver e então projetamos esse mundo lá fora, fazendo dele a verdade tal como o vemos. Nós fazemos com que ele seja verdadeiro através de nossas interpretações do que estamos vendo. Se estamos usando a percepção para justificar nossos próprios erros - nossa raiva, nossos impulsos para atacar, nossa falta de amor em todas as formas que pode ter - veremos um mundo de amor em todas as formas que pode ter - veremos um mundo de maldade, destruição, malícia, inveja e desespero. Tudo isso nós precisamos aprender a perdoar, não porque estamos sendo “bons” e “caridosos’, mas porque o que estamos vendo não é verdadeiro. Nós distorcemos o mundo pelas nossas defesas tortuosas e estamos consequentemente vendo o que não existe. À medida que aprendemos a reconhecer nossos erros de percepção, também aprendemos a olhar para o que está além ou “perdoá-los". Ao mesmo tempo, estamos perdoando a nós mesmos, olhando para o que está além de nossos auto-conceitos distorcidos que é o Ser Que Deus criou em nós e como nós.
O pecado é definido como “falta de amor” (Texto pág. 12), Já que o amor é tudo o que existe, o pecado na ótica do Espírito Santo é um erro a ser corrigido, e não um mal a ser punido. Nosso senso de inadequação, fraqueza e in-completeza vem do grande investimento no “princípio da escassez” que governa todo o mundo das ilusões. Desse ponto de vista, nós buscamos em outros o que sentimos que está faltando em nós mesmos. “Amamos” um outro para conseguirmos algo para nós. Isso, de fato, é o que passa por amor no mundo dos sonhos. Não pode existir nenhum erro maior do que esse, pois o amor é incapaz de pedir o que quer que seja.
Só as mentes podem se unir na realidade, e aqueles a quem Deus uniu ninguém pode separar (Texto pág. 37). No entanto, é só ao nível da Mente de Cristo que a verdadeira união é possivel e essa, de fato, nunca foi perdida. O “pequeno eu” procura se realçar através da aprovação externa, dos bens externos e do “amor” externo. O Ser Que Deus criou não precisa de nada. Ele está para sempre completo, a salvo, amado e amoroso. Procura compartilhar mais do que conquistar, estender mais do que projetar. Ele não tem necessidades e quer unir-se a outros devido à consciência mútua da abundância.
Os relacionamentos especiais do mundo são destrutivos, egoístas e infantilmente egocêntricos. No entanto, se dados ao Espírito Santo, esses relacionamentos podem vir a ser as coisas mais santas na terra - os milagres que indicam o caminho para o retorno ao Céu. O mundo usa os seus relacionamentos especiais como uma arma final de exclusão e uma demonstração do estado de separação. O Espírito Santo os transforma em lições perfeitas de perdão e lições que nos levam a despertar do sonho. Cada um é uma oportunidade de deixar que as percepções sejam curadas e os erros corrigidos. Cada um é mais uma chance de perdoar a si mesmo perdoando ao outro. E cada um vem a ser mais um convite ao Espírito Santo e à lembrança de Deus.
A percepção é uma função do corpo e, portanto, representa um limite na consciência. A percepção vê através dos olhos do corpo e ouve através dos ouvidos do corpo. Evoca as respostas limitadas que o corpo dá. O corpo parece ser amplamente auto-motivado e independente; no entanto, ele responde só às intenções da mente. Só a mente quer usá-lo para o ataque em qualquer forma, ele vem a ser vítima da doença, da idade e da decadência. Se, em vez disso, a mente aceita o propósito que o Espírito Santo tem para ele, ele vem a ser um meio útil de comunicação com os outros, invulnerável por tanto tempo quanto for necessário para ser gentilmente deixado de lado quando a sua utilidade chegar ao fim. Em si mesmo ele é neutro, como tudo no mundo da percepção. É usado para os objetivos do ego ou do Espírito Santo, dependendo inteiramente do que a mente quer.
O oposto da ótica que se tem com os olhos do corpo é a visão de Cristo, que reflete força em vez de fraqueza, união em vez de separação e amor no lugar do medo. O oposto da audição através dos ouvidos do corpo é a comunicação através da Voz de Deus, o Espírito Santo, que habita em cada um de nós. A Sua Voz parece distante e difícil de ser ouvida porque o ego, que fala pelo ser pequeno e separado, parece falar muito mais alto. De fato, isso está revertido. O Espírito Santo fala com uma clareza inconfundível e com um apelo irresistível. Ninguém que não escolhesse se identificar com o corpo poderia ser surdo às Suas mensagens de liberação e esperança, ou poderia falhar em aceitar com alegria a visão de Cristo em lugar do seu miserável retrato de si mesmo.
A visão de Cristo é a dádiva do Espírito Santo, a alternativa de Deus para a ilusão da separação e para a crença na realidade do pecado, da culpa e da morte. É a única correção de todos os erros da percepção, a reconciliação dos aparentes opostos nos quais esse mundo se baseia. A sua luz benigna mostra todas as coisas de outro ponto de vista, refletindo o sistema de pensamento que surge do conhecimento e fazendo com que o retorno a Deus não só seja possível mas inevitável. O que era considerado como injustiças feitas a alguém por outra pessoa, agora vem a ser um pedido de ajuda e um chamado para a união. O pecado, a doença e o ataque são vistos como percepções equivocadas que pedem um remédio através da gentileza e do amor. As defesas são postas de lado porque onde não há ataque, não há necessidade delas. As necessidades de nossos irmãos passam a ser as nossas, porque eles fazem conosco a jornada em direção a Deus. Separados de nós, eles perderiam o seu caminho. Sem eles, nós nunca poderíamos achar o nosso.
O perdão é desconhecido no Céu, onde a sua necessidade seria inconcebível. No entanto, nesse mundo o perdão é uma correção necessária a todos os erros que cometemos. Oferecer o perdão é o único modo de o recebermos, pois ele reflete a lei do Céu onde dar e receber são a mesma coisa. O Céu é o estado natural de todos os Filhos de Deus tal como Ele os criou. Essa é a sua realidade para sempre. Ela não foi mudada por ter sido esquecida.
O perdão é o meio através do qual nós nos lembraremos. Através do perdão, o pensamento do mundo é revertido. O mundo perdoado vem a ser a porta do Céu, porque através da sua misericórdia podemos finalmente perdoar a nós mesmos. Não aprisionando ninguém à culpa, nós nos libertamos. Tomando conhecimento de Cristo em todos os nossos irmãos, reconhecemos a Sua Presença em nós mesmos. Esquecendo todas as nossas percepções equivocadas e sem nada do passado para nos deter, podemos nos lembrar de Deus. Além deste aprendizado, não podemos ir. Estamos prontos e o próprio Deus dará o passo final em nossa viagem de volta a Ele.
Publicado por Joma Sipe às 10:24
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